Mistérios do Luanga: A Dama da Noite

Na quinta crônica (1 a 4) sobre acontecimentos pitorescos ou misteriosos na região do Rio Sereno e no seu afluente da margem direita, Igarapé Luanga discutiremos o “caso da toalha no Luanga”.

Os casos de “assombração” ocorridos no acampamento Luanga criaram uma relativa fama entre os membros das equipes deslocadas para trabalhar naquela área.

As histórias eram recontadas à noite na pracinha do acampamento, incluindo, às vezes, novos e criativos aspectos. Outras histórias fantásticas da selva amazônica eram incluídas no repertório para deleite da plateia e, também, para o medo dos trabalhadores mais crédulos e ingênuos.

Algumas vezes, felizmente raras, o setor de compras da empresa errava na qualidade do material enviado para as frentes de campanhas. Ficou célebre, por exemplo, um cobertor curto, apelidado de bicicleta, que quando cobria a cabeça, descobria as pernas e vice-versa. A sua estreia coincidiu com um período de uma forte cruviana (frio intenso nas noites e madrugadas no verão amazônico) e, por isso, foi motivo de muitas reclamações.

Outro caso sempre lembrado foi de uma remessa de toalhas finas e que não conseguiam absorver bem a água, ou seja, não cumpriam a sua tarefa básica de enxugar. Essas toalhas tinham uma das faces desenhadas com chamativas imagens de paisagens, animais e de mulheres proporcionalmente em tamanho natural.

Eu me encontrava no acampamento Luanga quando chegaram essas inaptas toalhas. O Luanga, como já dito, tinha adquirido a fama de um local misterioso ou mal-assombrado. Existiam motivos para isso. Foi lá que tivemos a aparente visita da Iara (1) e onde também ocorreu o caso da desorientação de uma experiente equipe de campo, provocada, provavelmente, pelo Curupira (2). Havia, para completar, relatos de almas penadas de garimpeiros e sem-terra mortos na região.

Era comum uma roda de conversas, após o jantar, no espaço entre os barracos, que denominávamos “pracinha”. Numa noite, no Luanga, o assunto predominante era sobre histórias de lendas da mata e de fantasma. Os casos supostamente ocorridos na área do acampamento foram comentados com outros ainda mais arrepiantes.

Um dos ouvintes, um peão novato, um típico “orelha seca”, foi dormir muito impressionado. No meio da noite, ainda pensando nas histórias, ele se levantou para fazer xixi. A escuridão aumentava ainda mais a inquietude que o acompanhava. Quando se dirigia apressadamente para o sanitário, percebeu um vulto de uma mulher que flutuava à sua frente. Deu um grito horripilante que despertou quase todo o acampamento. Os primeiros colegas que correram em seu socorro perceberam de imediato que o esvoaçante fantasma feminino era apenas uma das “toalhas que não enxugavam”, com um desenho de uma mulher, e que tinha sido deixada pendurada ao relento, numa corda. A brisa noturna provocava o aparente voar do aparente espectro.

Foi uma gozação geral. Dessa vez, o mistério do Luanga estava esclarecido e foi transformado em uma divina comédia. Seu principal ator ficou, infelizmente, conhecido como um cabra frouxo e, pior, que tinha medo de mulher.

Site Caca Medeiros Filho

1 MEDEIROS FILHO, Carlos Augusto. Caso de Vampiro com a Iara. Disponível em: https://cacamedeirosfilho.blogspot.com/2024/12/caso-de-vampiro-com-iara.html

2 MEDEIROS FILHO, Carlos Augusto. Mistérios do Luanga – Andando em Círculos. Disponível em: https://cacamedeirosfilho.blogspot.com/2025/01/misterios-do-luanga-andando-em-circulos.html

3 MEDEIROS FILHO, Carlos Augusto. Mistérios do Luanga – O Caboclo do Sono. Disponível em: https://cacamedeirosfilho.blogspot.com/2025/02/misterios-do-luanga-o-caboclo-do-sono.html

4 MEDEIROS FILHO, Carlos Augusto. Mistérios no Luanga – O Biriba me assaltou?. Disponível em: https://cacamedeirosfilho.blogspot.com/2025/02/o-biriba-me-assaltou.html

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